24 de agosto de 2011

Extra! Extra!


Um blog tão garoto, tão mirim, e já com pretensões expansionistas?
Pois é, parto amanhã para Madrid. Será um reencontro aguardado há anos.
A ver...

Foto: estátua do jornaleiro, abaixo do memorial a Eduardo Coelho, fundador do Diário de Notícias, no Miradouro de São Pedro de Alcântara.


22 de agosto de 2011

Sexta, às 2h, no bar:

- Vocês são do Rio de Janeiro? Eu estive em vossa cidade.
- Ah, legal. Gostou?
- Olha, vou lhes dizer, ali há muito que melhorar em termos de segurança. E olha que eu estive na melhor zona. Zona alta, estive ali mesmo na Visconde de Pirajá.
- Zona alta?
- É, de gente da alta.
[ Alta sociedade, intervém o garçom]
- Meu amigo que mora há muitos anos lá definiu a cidade: “Pedro, garoto, isso daqui é a mistura do luxo com o lixo”.
- É, é verdade...
- De Copacabana, não gostei. Ali tem muito do lixo. Ipanema, Leblon, Santa Teresa, Botafogo estão bem. Fui à Baronetti, vocês devem conhecer, aquilo é bom.
- É, a gente sabe onde é...
- Mas aquilo lá precisa ainda melhorar muito em termos de segurança.
- Somos uma democracia jovem, há muito por fazer...
- Vocês precisam valorizar os índios! – diz outro cliente do bar, de passagem.
- Vocês não sabem, nós sabemos, mas a grande coisa que aconteceu ao Brasil foi o Lula. Ele fez muito pelo país.
- Sem dúvida. Nós gostamos dele...
- Pá, você me desculpe, mas eu vou dizer: sou um gajo de esquerda.
- Ah...
- O que tem que ser feito no Brasil é aumentar a classe média. Essa é a diferença da Europa. Porque, veja bem, eu sou um gajo de esquerda, então, penso que não pode haver um bairro onde só há um tipo de gente metida ali. Senão começam a haver...
- Guetos.
- Isso, guetos. Pois, se você mete num bairro ciganos e gente normal o que vai a passar é o que acontece nos filmes: o rico vai casar com o pobre, e o cigano vai ver que não precisa... viver feito cigano.
- Ah...
- Vocês me desculpem, é que sou um gajo de esquerda.
+++
Desde que cheguei não houve uma única pessoa que conseguisse dar uma informação sem confundir esquerda com direita. A boca diz uma coisa, a mão vai para o lado oposto. Talvez todos sofram de ambilevidade – inclusive o Pedro.

16 de agosto de 2011

De noite e de dia


O que não faltam aqui no Chiado/Bairro Alto são ruelas fofas, com bares e lojinhas bacanas. A minha rua fervilha quase todas as noites com hordas de gringos e de portugueses, em menor número.
Mas há uma rua que tem tudo para ser a minha preferida, a Rua da Bica. Estive nela num sábado à noite e aprendi que em Lisboa a noite funciona da seguinte forma: começa no alto e vai terminar no Tejo. A Rua da Bica está no ponto intermediário e parece atrair mais lisboetas do que as demais. As pessoas ficam na rua e nos muitos bares, quase todos fazendo alusão à rua em seus nomes (Bicaense, Estrela da Bica e por aí vai).

Hoje voltei de dia à Bica. Parece outra, calma e silenciosa, cortada apenas por seu elevador. Os bares ainda não abriram e é possível ver melhor a arquitetura das casas e o emaranhado de cabos que cria formas geométricas no céu. Vale ler mais sobre a rua neste blog bacana sobre as ruas de Lisboa.
A gratíssima surpresa do passeio da tarde foi o pequeno estabelecimento que atende por A Vizinha. Móveis dos anos 50 e 60, vasos de plantas e temperos na vitrine, este misto de mercearia e bar é o tipo de lugar que dá vontade de imitar em outras cidades. Almoço natureba e delicioso – nunca pensei que suco de cenoura, maçã e gengibre pudesse ser tão bom – o bar (?) está aberto há pouco mais de um mês. É comandado pelo Jorge e pela Ligia que preparam as comidas na hora e de acordo com o que há na casa – o meu suco foi a opção diante da falta de melancia. O clima é informal e acolhedor. As placas avisam: não há serviço de mesa. O cliente tem que ir até o balcão buscar o pedido. Se for uma salada de feijão ou uma tosta de queijo de Nisa, valerá a pena.
+++
No tal sábado em que estive na Bica, a noite terminou em um estabelecimento sui generis. Nada de cachorro-quente ou filé com queijo para aplacar a fome da madrugada e reunir os mais boêmios. No Sol e Pesca o que se come são enlatados. Atum, polvo, salmão e mais uma penca de bichos do mar preparados das mais diferentes formas e prontos para consumir. Ao atendente mal humorado cabe apenas abrir a lata, fatiar o pão e uma rodela de limão. Fica lotado. Taí outra ideia que estou pensando em imitar.


Deu na Time Out Lisboa & Algarve


Parte dos portugueses está indignada com os Smurfs – ou pelo menos o autor que assina a resenha do filme na revista. O motivo é que para a geração que cresceu na década de 70 e 80 os homenzinhos (e mulherzinha!) azuis são conhecidos como Estrumpfes (pronuncia-se Estrunfes).

Curioso que outro dia estava assistindo a TV e vi o desenho dos Smurfs – devia ter uns 20 anos que não via um – e me chamou atenção, além do sotaque diferente, claro, o fato de a Smurfete ser Smorfina aqui. O gato Cruel leva o nome de Azrael, como nos quadrinhos belgas que originaram o desenho.

O texto da Time Out explica – em uma página inteira e mais uma coluna apenas para a crítica do filme – que desde 2005 o desenho já passava na TV como no original americano (Smurfs) sem qualquer referência a Estrumpfes, uma decisão mercadológica que igualava as grafias usadas no Brasil e em Portugal.

Polêmicas nostálgicas à parte, não estou inclinada a assistir a Smurfs, o filme, embora haja uma campanha em casa para tanto. Em vez disso, vi Bridesmaids ou A melhor despedida de solteira, como foi titulado em Portugal. Gostei muito. É produzido pelo Judd Apatow, que tantas alegrias já me deu, e tem a ótima Kristen Wiig – aquela do Saturday Night Live – como protagonista e roteirista. É engraçado, é sobre mulheres, um tantinho pastelão, mas bonito e humano (embora não goste muito desta última definição). E fofo.

Ainda sobre a Time Out Lisboa, vale dizer que além de excelente guia cultural, nela li pela primeira vez uma crítica (negativa) a um tradutor, dando nome e sobrenome do gajo. Curti.

13 de agosto de 2011

Luz



Tinha já pronto um post sobre palavras que nos fazem sorrir, dizendo que uma das minhas é “luzinhas”. Isso porque o Tico descobriu – e me levou até – um lugar que, ele sabia, era a minha cara: Escadinhas do Duque. Essas escadas, que antes eram a Calçada do Duque, ligavam a zona "chique" da cidade, entre o miradouro de S. Pedro de Alcântara e o Largo Trindade Coelho, e a zona boémia do Rossio, me diz o Google. Almoçamos um dia lá e jantamos no outro. Lindo, lindo.
Só que hoje passamos a tarde/noite em Alfama – meu bairro preferido, acho – e encontramos mais luzinhas. Profusão de bares e restaurantes estrategicamente posicionados sob essas lampadinhas de que tanto gosto, com suas mesas ao ar livre a me convidarem a sentar e sorrir.
Daqui a quatro meses posto um ranking das melhores “luzinhas” da cidade. Reservem.
Na montagem, da esquerda para a direita: Escadinhas do Duque, olhando para o Bairro Alto, durante almoço no Restaurante Solar do Duque; as mesmas escadinhas à noite, durante jantar no Café Buenos Aires, olhando para o Rossio; Escadinhas de São Estevão, onde jantamos, hoje, sardinhas e douradas no Pátio 13. Vale dizer que este último funciona apenas no verão.

7 de agosto de 2011

Entre gafes e beijos



Sexta passada, primeira noite com amigos portugueses. A essa altura já jantamos e aprendi que filés de peixe-galo são gostosos, que açorda é uma espécie de purê feito de pão, ovo, alho, coentro e otras cositas más, que alheira é bem gostoso e não leva alho (na verdade é
um croquete de carne de aves) e que esparrancado é como o espinafre fica quando transformado em purê.
Já fomos do restaurante a um bar – tudo no quintal de casa, Bairro Alto – e tomamos minis (diminutas garrafas de cerveja com a abertura mais inteligente que já vi – depois fotografo uma) e já assistimos a um show de fado na Alfama, onde se apresentou o namorado de uma das amigas que nos acompanha, melhor dizendo, que nos guia.
Agora estamos num bar prestes a fechar e o Tico me entrega um daqueles cartões de propaganda, tipo Mica, dizendo “isso é muito português”. Diante da imagem da morte com um cajado segurando a placa “Se bebeu, deixe-me conduzir” – e de algumas taças de vinho e cerveja na cabeça – eu não titubeio e devolvo:
- É muito literal mesmo!
Risada geral entre os portugueses, que têm ótimo humor e brincam que “não sabemos mesmo fazer analogias, que burros”. Ruborizada, tento consertar a situação, sem sucesso, e o Tico joga a última pá de cal:
- Na verdade eu tava falando da forma da escrever, da ênclise.
+++
Segundos depois estou dizendo “que bonitinho” pra alguma gíria portuguesa e uma das meninas diz que para os portugueses bonitinho é quando nós dizemos bonitinho.
Que doçura.

Cá estamos

Entre um voo atrasado,
uma conexão perdida,
um menu espanhol (de aeroporto),
um rosto maquiado pela vendedora da MAC

e uma compra para encher as amigas de orgulho
,
sonecas no chão,
turbulências,
uma mala extraviada
e 32 kg três andares acima,
salvaram-se todos.