4 de setembro de 2011

Volver

Estranho voltar pela primeira vez a um lugar onde se viveu. Sair do metrô e dar de cara com a Gran Vía, ali, imponente. Vejo os prédios, as lojas, mas logo percebo que todas as lembranças de lugares virão acompanhadas de lembranças de momentos, de cenas. O cinema onde Ethan Hawke me avisou, em bom espanhol, que a maioria das salas em Madrid exibe filmes dublados; o restaurante bufê apresentado por uma amiga; o locutório em que fui furtada e onde passei horas na internet e ao telefone. Melhor (tentar) sintetizar em tópicos ou imagens.
As novidades (pra mim, claro):
- Caixa Forum Madrid: El Paseo del Prado ganhou mais um centro cultural. O prédio é bonito e bacana, as exposições são ótimas e a livraria/loja adorável. E é gratuito. Coladinho com o Reina Sofía.
- El matadero: “Centro recreatico de creación contemporânea”, é o que eles dizem. Antigamente matavam-se bois aqui. O projeto ainda não decolou mas é uma boa ideia. Armazéns revitalizados, espaço para exposições, música ao vivo – e gratuita. Pena que a comida era um simulacro da boa comida. Calamares e croquetas deixaram a desejar.
- Finca de Susana. Nem é novidade, já existia quando morei em Madrid, mas nunca havia comido lá. Delícia. O Arroz negro de sépia (ou seja, com a tinta da lula) é de comer ajoelhado. Assim como os chipirones (filhotes de lula) a andaluz. Tem cara de chique, mas é barato! Pena que os garçons sejam um tanto quanto bordes.
O que não mudou:
- O pulpo a la plancha do Maceiras. Melhor polvo da vida. O arroz de marisco (arroz marinero) também continua delicioso e farto. E o ambiente descontraído – alô comercial veiculado nas madrugadas da Bandeirantes.
- Meu embasbacamento com o museu do Prado e com o Thyssen. Do primeiro, fico com Bosch e as pinturas negras de Goya. Do segundo, com Lucian Freud, Hoper e Michael Andrews (grata descoberta).
- O perfil notívago dos espanhóis e o fato de a praça, o parque, enfim, as ruas, serem públicos – e usados. Pais com crianças, jovens, casais, senhores; todos estão na rua. Alguns bebem, outros leem, outros brincam. A rua é de todos até altas horas.
- A mala ostia dos funcionários da Easyjet. Vale-dor-de-cabeça está incluso na passagem.
O imperdível:
- Ermita de San Antonio, no paseo de la florida. Uma pequena capela que conserva afrescos pintados por Goya em 1798. Mas não são quaisquer afrescos. Seus anjos são de uma beleza difícil de explicar (e esquecer), suas escolhas, nada óbvias. As cores impressionam e ali, entre um personagem e outro, está um prenúncio do que ele viria a fazer em suas pinturas negras (igualmente imperdíveis, expostas no Museo del Prado). É curioso que a capela-museu, superbem conservada, tem entrada gratuita, uma sala em que é exibido um documentário bem bacana sobre a restauração da igreja e dos afrescos. Por 1 euro, compra-se um livrinho excelente com reproduções dos afrescos e história detalhada da Ermita, que a sua esquerda tem uma irmã gêmea, construída para acolher os fieis - e preservar corpo e obra de Goya. No site da prefeitura de Madrid é possível ler mais sobre a Ermita.
O que mudou:
- A praça Tirso de Molina, antes – falo de 2004-2005, quando morei em Madrid – reduto de “junkies e drogadictos”, finalmente virou a Plaza de las Flores. Ainda tem um mendigo ou outro de estimação, mas recebeu quiosques de flores, uma terraza e canteiros com plantas.
- O Museo Reina Sofía, expandido, com seus dois elevadores panorâmicos. A parte mais bonita é o jardim.
- Eu. Ter 29 anos é diferente de ter 22. Pesando prós e contras, a idade atual ganha de lavada.

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